terça-feira, 20 de dezembro de 2011

1989: O Ano Mais Hardcore!, por JSouza

Vou resumir alguns fatos que aconteceram depois da minha "expulsão" do apartamento. Bom, fui morar numa pensão no bairro Cambuci (SP), que era frequentada por latinos e moradores do interior. Minha saúde começou a se deteriorar e, para melhorar, eu tomava um conhaque todas as manhãs.
Fui contratado como editor de arte da CEA Editora, mas nunca me pagaram. Não comia comida, minhas refeições eram sempre xis-burguer. Continuei andando de skate, sempre descendo a Lins de Vasconcelos.
Meus "amigos" não me comprimentavam mais, nem no ônibus. A vida estava uma merda até que encontrei um zine jogado na rua.
         Alguns dias depois, eu estava batendo na porta de um escritório de advocacia com profissionais negros. O local ficava em frente ao DEIC, o que era uma piada. Lá funcionava a COB/AIT, ou melhor, o Núcleo pró-COB, já que esse sindicato ainda não se formara. Dentro da COB havia a Juventude Libertária, que era o meu interesse. Os militantes estavam reunidos e me olharam com desconfiança. Perguntaram o que eu queria. Cícero Barbosa Junior respondeu: "Não estão vendo que ele é um Punk?"
No dia seguinte, eu já estava no Parque da Luz, para assistir o meu primeiro show de HC verdadeiro. Até então, eu só conhecia coisas como Replicantes ou Billy Idol.
De repente, eu ouvia bandas desconhecidas como Restos de Nada e que cantavam exatamente aquilo que eu pensava. Logo, eu estava completamente envolvido com o Movimento, tanto em termos visuais como ideológicos.
Minha primeira "banca" foi o Clubinho do Limão, frequentado pelos Punks da Cidade (a gangue mais perigosa da época). Ao mesmo tempo, fui convidado para morar na Casa da COB, na Vila Pompéia. Houve uma reunião de punks da Cidade e do Subúrbio, mas que não passou de uma armadilha dos Punks da Cidade. Eles foram humilhados e até eu me dei mal. Fui jurado pela Cidade e me uni ao Subúrbio, que eram anti-drogas.
Em casa, festa todo o dia e muitas mulheres. Passei minha "banca" para Diadema e geralmente, dormia no chão de uma biblioteca. Lá, nós fomos atacados pelos Carecas e eu me vi como líder dos Punks. Em Santo Amaro, fui convidado para ser vocalista da TNV(Tesão, Neurose e Violência) e aceitei. Mas, minhas bebedeiras, assédio a namorada dos outros e brigas com amigos me condenaram. Fui deixado na Praça da República e espancado pelos Carecas. A coisa ia piorando até eu conhecer Helaine Kim.
Era uma festa hippie e eu queria transar com uma americana, mas não consegui e os meus camaradas estavam trovando uma das hippies. Não falei nada, bebi mais vinho e cheguei beijando. Seu nome era Kim e transamos debaixo da cama, enquanto a galera via clips do RxDxPx. Mudei bastante: menos bebida, mais treinos de Hapkido, andando sempre armado, peitando a carecada nos ônibus.

Ainda era um cretino: durante a semana traía a pobre Kim e recebia cheques frios. Me tornei bastante radical, principalmente em relação aos "traidores" como Redson e João Gordo(que correu de mim na República).
Meu auge foi ir para a frente de uma delegacia e não ser preso. Também tínhamos um pacto: bateu num dos nossos, apanha de todos. Ironicamente, ouvíamos coisas que não tinham nada de punk. Ouvia muito funk antigo, rap (Thaide e DJ Hum)...

...e Biquini Cavadão ("abaixo").
Mas, minha malandragem não durou muito.
Um dia, Kim não veio e nem veio no outro... e Tony Fernandes ("aquele? O atual blogueiro e colunista?") me mandou embora ao mesmo tempo que os amigos eram demitidos. Collor roubava a poupança dos velhinhos e eu perdia o amor da minha vida. Alguns de nós beberam, alguns se picaram, outros comeram a mulher dos amigos. Enfim, era o fim da ilusão anarquista e o começo de uma certeza: o Niilismo libertava.
Despejados da casa, partimos rumo a Juréia, decididos a criar galinhas e porcos. Houve um vendaval, um amigo a menos e apenas um saco de arroz. Roubamos para sobreviver, fomos caçados por paramilitares e nos isolamos. Isaac ("quem?") voltou e nos levou para Iguape, onde liguei para o velho, desesperado. A grana entrou na conta, fomos para o melhor restaurante e pedimos o melhor prato. Passamos mal e voltamos para Sampa.
Cada um foi para sua baia e eu, constrangido, voltei para a Pompéia. Fui morar com a minha" amante" de uma noite só.
Era um freelancer da Editora Ondas, mas não conseguia trampar. A vegetariana me infernizava dia e noite. Tinha duas opções: ou matava ela ou ligava pro velho novamente. Deixei minhas coisas na casa de Clemente, para nunca mais buscar. O sonho tinha acabado.

Esta foi mais uma história instigante, espantosa e barra-pesada do "guerrilheiro desarmado não-desalmado" Jerônimo de Souza.

Com relação a isso tudo... o que tenho a dizer? PUTA MERDA!

Edição, fotos, vídeo, adições e indagações entre aspas dentro de parênteses e este posfácio "cagalhão": ANDF

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